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Há 67 anos, jornalistas escrevem a história nas páginas de O Dia

O olhar apurado vê os fatos acontecendo como em um prisma, onde diversos são os ângulos apresentados. O problema no bairro que incomoda os moradores, as vítimas da violência, distorções sociais, as mudanças políticas. Realidades da vida em sociedade, que viram pauta e se transformam em notícia ao adentrar na engrenagem da comunicação.
Alguns usam das mãos ágeis para transformar o que foi visto em palavras, outros, capturam o momento em um clique. O certo é que entre o que acontece e o que é veiculado há atuação de um importante elo: o jornalista. Nos 67 anos do Jornal O Dia, muitos profissionais da comunicação contribuíram para deixar gravada na história fatos relevantes que marcaram a história.

Arte: O Dia
O presidente do Sistema O Dia de Comunicação, Valmir Miranda, que acompanhou a história do Jornal de perto, vendo o sonho do pai, o coronel Octávio Miranda, ganhar cor e forma, destaca a importância dos profissionais para o sucesso do impresso.
“Em 68, quando fiquei mais perto do jornal convenci um grande jornalista do Jornal da Bahia, de Salvador, a ser editor aqui. A partir de então, o jornal passou a ser mais trabalhado visualmente. Assim como ele, muitos outros profissionais contribuíram nesse processo”.
E é por essa visão, que nesta edição, o Jornal O Dia celebra mais um ano de atuação como líder em credibilidade.
De discos voadores à repressão
As histórias vão passando como em um filme na memória de Carivaldo Marques. Ele consegue resgatar da lembrança, como em um filme instantaneamente revelado, fatos e imagens que acompanhou ao longo de mais de 50 anos de histórias dentro do jornalismo impresso, quando iniciou sua trajetória profissional de repórter fotográfico no Jornal O Dia. Ano após ano, o profissional foi galgando novas funções dentro da empresa que, até hoje, é seu local de trabalho. Dessa trajetória, histórias não faltam e um olhar especial para cada uma delas também não.
Carivaldo tinha apenas 14 anos quando, pela primeira vez, cruzou a porta da redação para oferecer seu olhar apurado ao jornalismo. O ano era 1965 e, naquela época, a empresa não possuía laboratório de revelação. Os serviços prestados, então, eram feitos por meio de convênio do Jornal com uma empresa de fotos a qual ele trabalhava. “Fazia uma ou duas fotos para o dia seguinte e revelávamos no ‘foto’”, explica.

Carivaldo Marques chegou a ser detido na época da ditadura (Foto: Elias Fontinele/O Dia)
Pouco depois, a clicheria do Jornal seria implantada tornando fixa a presença do fotógrafo no ambiente da empresa. A partir de então, Carivaldo já não conseguiria precisar as horas em que, envolvido com pautas, fotos e revelações, respirava os ares do jornalismo. E de tantas histórias, uma das destacadas tem o registro guardado apenas na memória do profissional.
Em uma época de ditadura militar, Carivaldo relembra que, por conta da divulgação de matérias denunciando o chamado ‘mapismo’, um procurador federal enquadrou dez jornalistas piauienses na lei de segurança nacional. Desses, seis trabalhavam na redação de O Dia.
“Eram praticamente todos os jornalistas do Piauí. Descobrimos que o procurador gostava de jogar baralho e, à época, jogos de azar eram proibidos. Então fomos fazer esse flagra”, relembra.

Foto: Arquivo O Dia
Com a ajuda de toda a equipe, o fotógrafo seguiu para o Clube dos Diários, local onde os jogos aconteciam as escondidas. “Descemos no Clube e tinha uma escada estreitinha, que só dava para subir ou para descer uma única pessoa. Desci e dei de frente com o procurador jogando, esperei ele fazer o movimento com a carta e fiz a foto. Ninguém disse nada, achei estranho, passei o filme e bati outra. Nesse momento, um casal que estava lá no fundo disse que eu era fotógrafo do jornal O Dia. Eu corri e subi e o jornalista que me acompanhava desceu, armado, e apontou uma arma para conter todos”, relembra.
A foto foi feita e, com o registro, o procurador foi persuadido a retirar a restrição aos jornalistas. Uma pauta que não saiu no jornal do dia seguinte, mas foi essencial para o trabalho da imprensa daquela época continuar existindo (e resistindo).
E essa não é a única lembrança de confronto que o fotojornalista teve de administrar. A rígida postura do governo ditatorial também fez com que a Praça Pedro II, no Centro de Teresina, virasse palco de conflitos. “No primeiro governo do Alberto Silva, o Quartel da Polícia Militar ficava onde hoje é o Centro de Artesanato e, como a praça circulavam muitas pessoas, houve um momento que alguém chutou um carro da polícia porque eles passavam muito rá- pido por ali. Isso deu uma confusão enorme”, relembra.
Na ocasião, o fotógrafo se muniu da sua principal arma: a câmera. Registrou o levante da população e a reação da polícia. O filme do registro foi rapidamente encaminhado para a redação, mas a iniciativa não foi despercebida pelos oficiais. Carivaldo foi detido e ficou horas sob controle policial. Esclarecimentos prestados, no outro dia, a foto estampava o jornal e mais uma memória entrava para a coleção do fotógrafo, que também foi o responsável pela cobertura de fatos marcantes como a vinda do Papa Paulo II a Teresina.
"Ô seu moço do disco voador"
Além das coberturas de fatos históricos, outro momento também ganha especial atenção dentro da trajetória do profissional. Afinal, nada mais extraordinário que ter em seu currículo a cobertura de um fato sobrenatural.
Carivaldo relembra a época em que os piauienses se voltaram para fenômenos extraterrestres e muitos relatos de pessoas que viram ou fotografaram discos voadores começaram a repercutir pela cidade.

Foto: Arquivo O Dia
Nesse período, o fotógrafo, em uma empreitada proposta pelo editor do Jornal fez o passo-a-passo de como surge o boato.
O fotógrafo acompanhou a criação do tal disco, na redação, e logo depois o objeto confeccionado foi fotografado por ele, com efeitos que até os mais incrédulos acreditariam ser, de fato, uma nave espacial.
 As matérias divulgadas se dividiram entre questionar o aparecimento de mais instrumento sobrenatural, em um dia, à explicação do fato, no outro. O certo é que, em mais um episódio, Carivaldo ajudava o jornalismo a fazer ao que se propõe: questionar.
Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia

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