Educaçâo

Jornada prolongada resulta em notas melhores em área agrícola

A jornada diária das 46 crianças começa cedo, às 7h30, com o café da manhã na escola. De segunda a sexta-feira, elas têm uma rotina escolar puxada de oito horas e meia de atividades, mas não reclamam e querem mais. Situada numa comunidade rural cercada pelo verde das lavouras, a cerca de 60 quilômetros de Brasília, a Escola-Classe Cariru adota desde 2009 a educação em tempo integral.
Apesar das plantações ao redor, a diretora Edilene Ferreira de Oliveira explica que as mudanças no aprendizado das crianças e as notas melhores nas provas começaram com o reforço nutricional. “Nossos alunos são filhos de boias-frias e de caseiros que trabalham para os donos das terras e não têm tanta fartura de alimentos em casa”, conta. “Eles gostam da comida da escola e se alimentam bem.”
Além do café da manhã e do almoço, todos lancham antes de voltar para casa. O alunado é formado por crianças da própria comunidade do Cariru e por outras que moram mais distante, no lugarejo chamado Café sem Troco, a 11 quilômetros da escola. No total, a unidade de ensino tem, matriculados, 128 alunos, da pré-escola ao quinto ano. Como não há espaço para oferecer a jornada ampliada a todos, tiveram prioridade na seleção as turmas da pré-escola, primeiro e quinto anos. “Uns porque estão começando a rotina de estudos e precisam mais de acompanhamento e adaptação”, explica a diretora. “As crianças do quinto ano porque vão deixar a escola; o integral é uma oportunidade de seguirem mais preparados para a próxima fase educacional.”
Às 14h de uma quarta-feira, a turminha dos menores escovava os dentes e se preparava para visitar a horta e o pomar, atrás da escola, enquanto os maiores, na quadra de esportes, alongavam os músculos antes de começar a correr entre cones enfileirados. “Há um ano, eu faço essa corrida. É divertido, bom para a saúde, e estou correndo cada vez mais rápido”, explica Tiago Souza, aluno do quinto ano, na timidez de seus 12 anos.
Horta — Na horta escolar, o trabalhador rural aposentado Jovelino Oliveira, 61 anos, cuida das plantas e presta atenção nas explicações dos professores. “Eu já sei que tomate não é verdura”, conta e ri, antes de voltar a revolver a terra. Quando a criançada sai de férias, ele garante a vida nos canteiros de cenoura, abóbora, batata-doce, chuchu, repolho, quiabo e hortaliças variadas. Tudo cultivado sem agrotóxico. “Já comi banana daqui”, diz uma menininha de cinco anos, antes de se afastar com a turma. Além das verduras, Jovelino plantou um pomar, e as primeiras frutas já se exibem.

A horta, bem cuidada pelo antigo vaqueiro, serve de aprendizado para as aulas regulares e atividades do período integral, além de complementar a merenda. O professor Maicon Derlan, coordenador da educação integral da escola, explica que dois projetos pedagógicos sobre alimentação saudável a partir da horta foram premiados, em 2014, na feira de ciências realizada pela Secretaria de Educação, responsável pela Escola-Classe do Cariru. “As crianças fizeram um bolo de alface para a feira de ciências e ofereciam pedaços aos visitantes que ouviam as explicações”, diz o professor.
A partir da horta, os alunos aprenderam também sobre sustentabilidade ambiental. A água da chuva que escorre do telhado da escola foi canalizada e armazenada em uma caixa d’água para ser usada na época de seca. Assim, a horta não sofre com a estiagem.
Além da horta e do atletismo, os alunos têm atividades de acompanhamento escolar em matemática e português e contam com ajuda para fazer as tarefas de casa e atividades de lazer, com aulas de musicalização e tênis de mesa.

Música — O professor Marcos Arcanjo, do quinto ano, cantor e compositor, complementa o projeto de canto coral das aulas regulares com iniciação musical. “As atividades de musicalização ajudam na concentração e instigam a inteligência emocional”, afirma. “A minha ideia é que os alunos saibam, a partir de uma partitura, cantar o som da nota, ou seja, aprendam a solfejar e, depois, a cantar no som da melodia.”
Após seis anos de experiência com a jornada ampliada, a diretora Edilene de Oliveira, que acompanhou toda a transformação na escola, desde o início, não tem dúvidas dos ganhos para o ensino e a aprendizagem. “Esse tempo a mais significou notas melhores e melhor domínio da leitura e diminuição da reprovação, além de a escola ter passado a fazer parte das coisas que a criança gosta”, constata.
Rovênia Amorim

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