Além da estupidez, a desinformação é outra gigantesca multinacional. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade, declara que é preciso botar os trabalhadores brasileiros para uma faina semanal de 80 horas. Isso representaria aumentar em 81% a jornada de trabalho semanal de 44 horas. Significa propor mais cinco horas diárias de trabalho.
O doutor é um desinformado de marca maior. Nem a França tem uma reforma trabalhista que coloca seus trabalhadores de volta ao século XIX, nem é possível estabelecer uma jornada de trabalho semanal superior a 44 horas semanais – salvo se por horas extras, conforme explica a procuradora regional do Trabalho Evanna Soares.
Evanna Soares diz que a jornada de 44 horas é estabelecida em cláusula pétrea da Constituição, que só pode ser alterada se for escrita uma nova Carta Magna para o país, o que significa que o presidente da CNI comeu mosca em sua proposta maluca de praticamente restabelecer a escravidão no país.
Pela proposta do marquês da indústria mineira, um trabalhador brasileiro precisaria trabalhar quase 13 horas por dia. Restaria 11 horas para dormir, deslocar-se de casa para o trabalho e de volta para casa, para ajudar nas tarefas domésticas (ou executá-las todas, no caso das trabalhadoras) e, se der, olhar os filhos.
O doutor Andrade fez a proposta depois de uma conversa com o vice-presidente Michel Temer, o peemedebista que está de guarda no Palácio do Planalto enquanto o Senado não afasta em definitivo a doutora Dilma Roussef.
A justificativa do presidente da CNI para praticamente pedir a revogação da Lei Áurea é que na França o governo socialista de François Hollande estabeleceu uma jornada de trabalho de 80 horas semanais. Além de um escravocrata enrustido, o doutor é desinformado.
Se ele prestasse atenção ao clipping que sua assessoria de comunicação certamente lhe prepara, saberia que a proposta demonsieur Hollande não mexe na sagrada semana de 35 horas que os franceses herdaram de outro socialista, monsieur Mitterrand.
É claro que na prática, a reforma trabalhista de Holland devolve a França a embaraçado mundo da competitividade econômica do qual foi retirado com a semana de trabalho criada por um cara que foi um partisan e um sonhador, mas em nenhum momento há uma citação às tais 80 horas – que representam quase 13 horas diárias de trabalho, de segunda a sexta-feira.
Gente como o doutor industrial mineiro talvez sonhe em transmutar o Brasil para a Inglaterra do século XIX, quando operários moravam na fábrica, porque as jornadas de trabalho eram tão intensas que não dava tempo chegarem em casa para descansar.
Claudio Barros
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