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Parnaíba, porto e aeroporto

A Globo há poucos dias trombeteou que no Piauí tem um aeroporto internacional pronto e sem uso – em Parnaíba. Até registrou quanto essa ociosidade custa aos cofres públicos, pois oficialmente ele está funcionando.
Não houve repercussão da notícia e seria construtivo que houvesse, porque se trata de uma obra sonhada e muito demandada pelo povo e governo durante longo tempo, até porque Parnaíba é uma cidade que conhece avião e já foi servida por linhas aéreas noutras épocas. Afinal, um moderno aeroporto sempre foi apontado como “obra estruturante” essencial ao desenvolvimento da atividade turística piauiense, sobretudo do norte litorâneo. E está ali, disponível.
O debate calharia bem e ajudaria a iluminar a discussão secular, conexa, sobre o porto marítimo piauiense da zona do Delta, outra “obra estruturante” muito reclamada e cujo movimento, no passado, significou grandeza para aquela cidade. Ajudaria a entender porque seriam, essas e outras obras, importantes para o desenvolvimento do Piauí no presente. Do que, aliás, precisaria se responder, no caso de Parnaíba, por exemplo, porque deixou a cidade de ser rota aérea e perdeu importância relativa seu porto fluvial do Igaraçu. Por quê? Misture-se, por carona, outra interpelação ao passado: por que finou a Fábrica de Lacticínios do Engenheiro Sampaio, no Piauí gadeiro central de há cem anos? 
Uma coisa e a outra, e outras mais, são tratadas em bons estudos da história, com ênfase nas análises e interpretações dos processos da economia piauiense e suas inserções, reais e intentadas, no âmbito das relações culturais e produtivas mais alargadas do Brasil e do mundão, que a tudo determinam. Existem outros, mas cito três contribuições valiosas para um indispensável começo de conversa, as que foram dadas por R. N. Monteiro de Santana, Teresinha Queiroz e Felipe Mendes de Oliveira. Na própria Parnaíba, terra de muita gente laboriosa, quanto estudiosa, há bons estudos sobre os passos e impasses de seu percurso em busca da grandeza citadina.
O porto piauiense se estruturou e inseriu o Piauí nos fluxos da economia-mundo na segunda metade do século XVIII, mais precisamente no tempo da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, elemento articulador da economia colonial nesta região norte da América portuguesa, no governo de Sebastião José de Carvalho e Melo. É a época em que Parnaíba se torna sede de um município e polo produtor significativo, inclusive com a manufatura da secagem de carnes e sua venda para mercados através do porto local – zona do hoje “Porto das Barcas”. Por todo o século XIX e até a metade do XX, a cidade serviu-se dele em suas relações comerciais. 
Ainda nesse final de século XVIII e por quase todo o XIX, num lance muito esquisito, ali entre a própria sede municipal parnaibana e o Oceano, o Ceará tomou a si e “colonizou” a única fração litorânea-continental do Piauí, que historicamente pertence-lhe,  desde, pelo menos, a instalação da capitania, em 1759 – é só consultar a carta então elaborada por H. A. Gallucio (1760). 
A transferência da atividade portuária parnaibana para um porto em mar aberto é também do século XIX e a antiga “colônia” de pescadores da Amarração o lugar tido por ideal para instalá-lo, mas o Piauí encontrará o obstáculo de estar seu litoral continental sob a autoridade do Ceará. Assim é que a construção do novo porto, como necessidade estratégica da Província, tornar-se-á um dos principais argumentos que faz o Piauí doar ao Ceará parte do seu território – uma das mais pródigas entre suas comarcas, a de Príncipe Imperial. O Piauí perdeu duplamente: “trocou” um pedaço de seu território serrano por outro litorâneo. E com mar, mas sem porto de, ficou até hoje. Aliás, vi, não faz muito tempo, um economista parnaibano na TV dizendo que o porto de Luís Correia, da maneira que se o quer, hoje, seria inviável, pela proximidade dos grandes portos do próprio Ceará e do Maranhão. 
Fato é que a região do baixo Parnaíba e o pioneiro “porto das barcas” decaíram. Sim, o governo gastou o dinheiro público e garantiu um bom aeroporto e os empresários não se interessaram. Terão interesse no milionário porto correano?   
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Fonseca Neto, da Ufpi, da APL, escreve às segundas-feiras.

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